Mercúrio em Peixes não presta

– É isso sabe. Nasci errada. Vou ter que trocar esse Mercúrio com alguém ou comprar num feirão astrológico.

– Não é para tanto. Te impede de alguma coisa?

– Claro. Peixes, pense! Fundo do mar. Mergulho. Fantasia. Perdição. Não tem como segurar nada. Tudo escapa. Por isso nem arrisco decorar as coisas.

– Tá. Mas. Lady Gaga? Atriz, cantora. Deve ter um bom manejo de memória e composição, não? Tem o Elton John, grandioso. E olha só, Johnny Cash, para desespero de Ed Motta. Mas aí tem o Bach também. Sacou?

– Ok. Mas e a mudez? Sei lá, li num livro uma vez. Não deve ser um Mercúrio que fale o que tem que falar.

– Bem. Nina Simone, Billie Holiday e Elliot Page tiveram uma boa coragem aí para assumir certas posições, não?

– Sim. Sim. Mas tem o excesso de sensibilidade também. Muito macio.

– Hm. Chuck… Norris?

Não é Mercúrio que nos faz abandonar a escrita, a memorização ou a capacidade de nos tornarmos compreensíveis. Somos nós. Mercúrio em Peixes aparece em várias natalidades com histórias interessantes quando avaliamos o uso da voz e da escrita. Não é o mesmo tom virginiano de Tolstói ou o frenesi geminiano do Miles Davis. Mas tem seu lugar assegurado no Mundo. É a comunicação úmida, fértil, sensível, profunda e grandiosa. Conceder lugar artístico, político e pessoal, faz parte de nossa margem de arbítrio. E não precisa ter fama para ser grande. É possível ser grande em muitos lugares. Especialmente consigo.

Texto por Bruno Ueno