ROTINA
foto por @khalafchebbo – reprodução do instagram
Ela acordou mais cedo do que o próprio despertador. Pega o celular e passa a mandar áudios para si mesma. Precisa contar sobre os sonhos que teve. Para si, para sua analista, para as amigas, para ninguém. Ao mesmo tempo em que declara seus devaneios, esquenta a água do café e do banho. Sai de casa, ainda exalando o café recém tomado e a colônia que ganhou de aniversário. Atravessa a cidade de metrô, ouvindo os podcasts diários. E reconhece ele, novamente. No mesmo banco, com os mesmos fones vermelhos. “Será que ele tomou café também?”. Não sabe o seu nome. Mas já o conhecia. Assim como a senhora que vende doces na saída do metrô. Chegando ao trabalho, abre duas abas no navegador. Uma para o trabalho, outra para a festa do final de semana. Precisa atender tarefas, enquanto reserva seu ingresso. Amanhã, precisa transcender dos dias úteis. E dissipar na multidão. Ser ninguém. Em rotina, ela carrega nome, crachá e função. Uma máscara social. E a vontade de ser outra pessoa só existe por ser o que é neste momento. Por trás da máscara que usa, existem outras. E por trás de todas as máscaras que consegue vestir, existe um vazio preenchido de si.
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Ela é a rotina que vive. E também a transgressão do final de semana.
É o metrô lotado diário. E a paixão por alguém que nunca ouviu a voz.
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Lua caminha na dureza da rotina responsável de Capricórnio. Avista os planetas em Peixes. E se deixa sonhar, romantizar, confabular. A partir de amanhã, Aquário faz os humores se dissiparem na multidão. Conflita com a solidez dos processos, claro. Por trás do prazer, desprazer. E vice-versa. Tudo ganha tons mesclados. Tornando a vida vivida um tanto mais interessante.
Texto por Bruno Ueno