DESEJO EM NÃO DESEJAR

Ela disse que me ama. E eu queria um dia entender de onde partiu isso. Será que foi algo que fiz. Ou será que isso é para que eu venha a fazer algo? Dizem que o amor é uma palavra que dilui as fronteiras. E eu, por vezes, me sinto como alguém que se segura nas margens de uma grande correnteza. “Espera um pouco”. “Ainda não”. Enquanto lá no fundo, parte de mim reclama: “é para agora. E, talvez, deveria ter sido para ontem”. Minha maior humilhação é nunca conseguir dar coerência ao texto do amor. Pois, facilmente, digo uma coisa e faço outra. E a graça de amar é não deixar de falar sobre o amor para apenas se deixar diluir. 

Amor como esse vívido movimento ambíguo, contraditório, paradoxal. De ser tudo e não ser nada. De me alimentar e de me privar de colo. De me elevar e de me colocar no lugar mais fundo. 

Quanto menos eu entendo, mais eu vivo. E quanto mais eu vivo, mais eu entendo. Logo, quero viver ou entender?

Sinto que à amo também. Mas, por hora, deixarei isso para outro amanhã. 

Até que eu entenda melhor.

Hoje, a Lua está em Peixes. E se opondo à Vênus em Virgem.

A fantasia se defronta com o afeto prático e discursivo dos momentos.

Não é preciso resolver a ambiguidade. 

A ambiguidade é a própria resposta.

  • Texto por Bruno Ueno