Abro o álbum. Viro as páginas, sem me decidir onde parar. Ainda que goste da sensação de linearidade, não me parece respeitar como a memória age em mim. Pois de repente paro no momento em que estava inseguro, frente à uma câmera analógica em um espelho do quarto. Não demora para que lembre do primeiro espelho que comprei quando saí da casa dos meus pais. E, nesse caso, não tenho uma boa foto. Mas tenho uma imagem forte e vívida no álbum das minhas memórias. Não demora para que deseje encontrar a foto de uma visita do meu irmão com uma querida amiga. Estamos tão jovens e hipsters. Demoro para encontrar a página no álbum. E, de repente, sinto que não preciso. Pois a imagem da cabeça ganha movimento. Se torna um filme. E da memória, faço um acontecimento do presente. Mando uma mensagem para meu irmão. “Você lembra”?. E, assim, o álbum, a memória, o passado, todos se presentificam em uma dança úmida, fértil e lunática.

Eu não consigo viver o hoje sem a presença do ontem.

Mercúrio está em Câncer. Até dia 19.07, os álbuns se abrirão diariamente. 

A memória é um livro vivo.

Texto por Bruno Ueno