Uma corda estica entre os olhos. Mais uma vez, entre o local e o estrangeiro, entre o familiar e o estranho, entre o profano e o sagrado. E, assim sendo, este tem sido um ano intenso para se pensar em distanciamentos físicos e/ou de comunicação. Curioso, não? 

Nesta Lua Cheia, os olhos que estavam voltados para o “Outro” no começo da Lunação, agora atestam que existem certas distâncias intransponíveis. Não tem jeito. Podemos replicar algumas expressões e gestos do “Outro”. Mas nunca seremos integralmente pertencentes ao que não somos. E vice-versa, cabe dizer! Ainda assim, é possível negociar esse fio. Saber que entre segredos e ruminações, existem possibilidades de se firmar relações, afetos e comunicações. Nem sempre verbais. Nem sempre silenciosas.

Que façam do distante fio entre as partes, um veículo de mensagens apreensíveis para ambos.

Para quem se voltou mais para estudos e espiritualidade, hora de retomar o “básico”. Nunca renegue a base de qualquer linguagem. A gramática de sua poética. A composição das tintas e os pincéis de sua tela. As cordas de aço e os acordes de seu violão. É preciso saber daquilo que compõe nossos maiores quadros. E aprender de novo. Por vezes, de outra maneira. 

Assim, por desejo ou por descuido, os quadros sairão um tanto diferentes. Se serão melhores ou piores, isso não importa, por hora.

Importa saber que entre os distanciamentos deste período existe uma certa cegueira. Nesse breve momento de olhos fechados diante da forte luz da Cheia, faça como Touro e Escorpião. Enterre uma parte de Si no que é tangível. E outra parte no que é sensível. Entre ambos, visualizará o seu desejo do período. Se não vier nada, se demore mais de olhos fechados. E siga seus dias.

Texto por Bruno Ueno