Uma criança era escolhida. Vendada, esperava as demais se esconderem estrategicamente em um quarto escuro. Ela era avisada. “Pode vir”! E, assim, começaria a brincadeira. Tinham dois extremos de atitudes que eram tomadas. A primeira era a criança atrapalhada. Apressada e afoita, tombava nas quinas, pisava em falso, derrubava objetos no chão. Um caos. A segunda era a criança assombrada pelo medo do escuro. Imobilizada, tremia ligeiramente a cada movimento. Efeito “ratinho”. E eu, sem muito orgulho, costumava ficar nessa situação temerosa. Eram as rodadas mais longas e na qual as demais crianças poderiam aprontar uivando ou latindo para a pobre vítima. Lidar com o escuro era a brincadeira do riso e do horror.

Arcane Limbus Tarot

E, assim como na “Lua” do Tarô, existem formas de caminhar por espaços que desconhecemos ou que não tomam os devidos contornos perante os nossos olhos. O excesso de bravura, como se fosse dia, é punível pelos tropeços e ataques desmedidos às sombras. O tiro ao aliado se torna costumeiro. Mas também partir para o oposto não ajuda. É preciso caminhar. Com medo. E no escuro.

Pois tanto a “Lua” quanto o Gato Mia se encerram em algum momento. Coincidentemente, quando menos esperamos. “Gato mia”! Basta saber sentir o que se toca. “Miau”. E anunciar quando se tem a mínima segurança do que se ouviu. “Matheus?”.

Texto por Bruno Ueno