DILÚVIO

Não brigo com a correnteza. Sou como a própria Água. Me deixo levar, me deixo fluir, me deixo lavar. Os espaços são tomados por mim. E nesse espalhar, deixo que o espaço também se faça em mim. Fico no molde daquilo que sinto. E aquilo que sinto molda os dias mais marcantes e os momentos mais banais. Quando deságuo em terras secas, fertilizo esquemas, normas e estruturas. Trago alento ao bruto, poética ao desesperançoso e fé ao desalmado. Deixo que as coisas cresçam em seus interiores, rompendo barragens e dissolvendo as formas em novas criaturas. Criaturas mágicas, fantásticas, oníricas. Dessa forma, sou eu, como Água, que delimito o fluir entre a vida e a morte, entre o começo e o fim. Nada pode existir sem mim.

Lua está navegando e divagando em Peixes. Mercúrio está adentrando no coração na tarde do sábado. E Vênus está prestes a se inserir nos mangues lunáticos de Câncer. 

Neste final de semana, o emocional, a subjetividade e a Morte tomam conta dos espaços interiores e exteriores. A Vida pulsa em imaginação, memória e fertilidade. Para quem deseja fincar o pé-no-chão, meus pêsames. O melhor a fazer é se deixar nadar, boiar e se arrastar pelas águas. E entender o que as mensagens mais intensas da vida onírica e emocional tem para dizer.

Por um breve período, “seja como água”.

Texto por Bruno Ueno