“EU QUERIA SER A PENA DE UM TRAVESSEIRO”

Grudada em outros pares, amando e desamando a cada momento em que sinto a cabeça de alguém deitar sobre nós. A vontade maior seria chegar um momento em que rasgassem os limites do travesseiro. Seja por intenção, seja por acidente, não importaria. Assim, estaríamos livres para sair voando pelos ventos. Alcançaria o topo do edifício mais alto para apreciar a vista de cada uma das janelas abertas e com a luz acesa em plena madrugada.

Sobrevoaria raso no oceano, correndo o risco de umedecer minhas partes e afundar entre os cardumes. Para depois já sobrevoar próxima de alpinistas que se jogam em meio à neve para fotografar o nascer do Sol. Com alguma sorte, voltaria até o lugar de origem. E, com mais sorte ainda, retornaria ao velho travesseiro. Contaria sobre cada uma das aventuras, errâncias e acidentes do meu voo.

Aguardaria, ansiosamente, o próximo rasgo.

Hoje, próximo da meia-noite, o Sol abandona as vestes densas de Touro para assumir as asas nos pés de Gêmeos.

A verdade não se encontrará mais em tudo que se estabiliza ou se contempla. Mas em tudo que pode ser chocado pelo movimento da curiosidade e da brincadeira. Que as revoluções solares de quem carrega Sol em Gêmeos tenha início. Desejamos que as dualidades sejam renovadas neste novo ciclo. Para sorte do Mundo.

Texto por Bruno Ueno