
Naquele momento, ela deseja ser “ninguém”. Caminhar por praças, avenidas, rios e mares. E não ter a menor possibilidade de avistarem em seus olhos as expectativas de seu reluzir. A coroa que ainda ostenta reflete a conquista de muitos domínios. E também dos dissabores que se estenderam para os seus breves momentos de contemplação do pôr-do-Sol. “Ser como ninguém. Assumir que não sou o centro das narrativas do Mundo.”. Ter noção da própria pequenez será o seu lugar de grandeza. “Ser ninguém é me permitir a ser qualquer coisa. Coisa pouca, coisa muita, coisa nenhuma”.

Existe uma grande liberdade em deixar cair a pretensão de controlar o entorno. E se dissipar na multidão como alguém cujo valor não reside apenas naquilo que se construiu ou se idealizou.
O valor já se encontra consigo mesmo.
E também nas irmãs, nas vizinhas, nos amantes, nos inimigos.
[Sol conjunto a Saturno. Estamos no meio da jornada do Sol-exilado. Nossa realeza assumindo o lugar da plebe. E a plebe assumindo a coroa das horas. Não brilhar apenas por Si próprio é uma forma de encontrar verdades duradouras]
Texto por Bruno Ueno